Desabafo de Luciano Huck

outubro 3, 2007

No último domingo de setembro, dia 30, Luciano Huck estava em São Paulo, no bairro do Itaim quando dois homens em uma moto o abordaram apontando um 38 em sua cabeça. O motivo  dos bandidos era o rolex que estava no pulso do apresentador, que tinha acabado de ganhar de aniversário de sua mulher.

Luciano não reagiu e logo entregou o objeto aos bandidos, e por sorte saiu ileso. Indignado, escreveu uma carta ao jornal Folha de S. Paulo relatando sua experiência e desabafando sobre o medo que passou, ao pensar que deixaria sua família destroçada e a atual situação das cidades violentas, principalemente de São Paulo.

Luciano Huck

 

 Na carta, Huck cita os enormes impostos que pagamos, e que ele não vê retorno algum para o bem estar da cidade e dos cidadãos. Segue um trecho da carta:

“Luciano Huck foi assassinado. Manchete do Jornal Nacional de ontem. E eu, algumas páginas à frente neste diário, provavelmente no caderno policial. E, quem sabe, uma homenagem póstuma no caderno de cultura.

Não veria meu segundo filho. Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio.
Por quê? Por causa de um relógio.

Como brasileiro, tenho até pena dos dois pobres coitados montados naquela moto com um par de capacetes velhos e um 38 bem carregado.

Provavelmente não tiveram infância e educação, muito menos oportunidades. O que não justifica ficar tentando matar as pessoas em plena luz do dia. O lugar deles é na cadeia.

Passo o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana. TV diverte e a ONG que presido tem um trabalho sério e eficiente em sua missão. Meu prazer passa pelo bem-estar coletivo, não tenho dúvidas disso.

Confesso que já andei de carro blindado, mas aboli. Por filosofia. Concluí que não era isso que queria para a minha cidade. Não queria assumir que estávamos vivendo em Bogotá. Errei na mosca. Bogotá melhorou muito. E nós? Bem, nós estamos chafurdados na violência urbana e não vejo perspectiva de sairmos do atoleiro.

Desculpem o desabafo, mas, hoje amanheci um cidadão envergonhado de ser paulistano, um brasileiro humilhado por um calibre 38 e um homem que correu o risco de não ver os seus filhos crescerem por causa de um relógio. Isso não está certo.”

Acho que não há o que complementar na carta, ele realmente sentiu na pele o que muitos de nós vemos e sentimos diariamente. Será que com o buzz gerado em torno disso as autoridades vão se pronunciar?!